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Chuvisca e gosto quando a cor do céu é a do mar cinzento. Gosto quando a chuva miudinha empurra os que passam para dentro das casas.
Nessas alturas, o Outono prolonga a tarde deixando as ruas desertas.
Sento-me sozinha na esplanada abrigada do café, rente à marginal. Posso levantar as pernas e estendê-las na cadeira em frente. Deselegante e descuidada. Ninguém passa e o rapaz que me serve não diz nada, não olha sequer para mim reprovador. Pousa-me a água no tampo da mesa e desanda alagado em sonolência. Uma moleza gelatinosa que não se espanta por me ver ali sentada a ver chover.
É quase cedo demais e chuviscam cinzentos frios os minutos.
Na minha frente, a cem metros de mim, vejo surgir do declive de pedra, agora húmido e escorregadio, que nos faz chegar ao areal, um guarda-sol aberto, laranja, com franjas brancas. Absurdo gigante. O homem que o traz vem embrulhado numa toalha azul-marinho e usa chinelos amarelos. Não lhe consigo ver a cabeça.
Fica parado a olhar o mar.
Chove no guarda-sol laranja aberto com franjas brancas do homem coberto pela toalha azul-marinho, de chinelos amarelos, parado contra o céu de chumbo a olhar o mar cinzento.
Apetece-me ficar pela eternidade dentro, naquele silêncio colorido, sentada na esplanada que dá para à marginal, como que a olhar uma canção a cem metros de mim.