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(Nuno Baltazar - Moda Lisboa)
Chega sempre o momento em que uma rapariga esperta não consegue suster mais a respiração e deixa de contar até onde sabe, descontrolando a irritação.
O momento chama-se Nuno Baltazar.
Com excepção de singulares ocasiões (o desafio Hombresenfalda*, proposto por Roger Salas, está relativamente bem conseguido), Nuno Baltazar não é particularmente talentoso.
Esta miserável falha reflecte-se na colagem que fez a Catarina Furtado que, ou engordou mais do que se contava, ou é vestida com dois números abaixo do estritamente necessário. A ex-namoradinha de Portugal (título a todos os níveis desagradável e tonto) acaba por ser, não a embaixatriz da marca, porque já é embaixatriz dos pobrezinhos, mas a única hipótese de visibilidade do seu amigo querido.
Inseparável do seu ídolo, da sua musa sorridente, o criador raramente consegue escapar à imagem e à imagética construídas por, e para, Rita Hayworth e acaba por transformar todas as mulheres em medíocres Margaritas Carmens.
Não inova, não renova, não reforma, não provoca o deslumbre e o assombro que são apanágio dos verdadeiros criativos.
Repete-se, confrangedoramente.
É evidente que existem momentos em que esta norma é transgredida e Nuno Baltazar atinge alguns, parcos, episódios dignos de nota e de atenção benevolente, mas, observado o somatório, o resultado é mediano e demasiado frágil (paupérrimo, se quisermos ser objectivas). O criador acaba passível de se ver transformado num case study. Não existe perdão neste lado do universo para aqueles que ignoram a pesada exigência e o pesado esforço que são exercidos sobre os que sobrevivem, ferindo-se de morte com os cotovelos, e Nuno Baltazar parece imune à falta de talento que se impõe.
Ao lado de Catarina Furtado, vai sorrindo, apoiando o déjà vu na silhueta espartilhada, esmagada e aparentemente oprimida, da apresentadora que o vai salvaguardando, por enquanto, do esquecimento (e, de certa forma, lhe sustém o reconhecimento quase inexplicável).
Se não podemos ter tudo, façamos o que podemos com aquilo que tivermos, diz o filósofo, e Nuno Baltazar tem objectivamente muito pouco.
(Nuno Baltazar - Hugo Vieira/Best Models fotografado por Pedro Ferreira)
*O conceito discursivo proposto integra no tempo e no espaço os diferentes registos da saia masculina, que adquire protagonismo como adereço cénico nas performances dos bailarinos Rudolf Nureyev, Nacho Duato e Joaquín Cortés e é em simultâneo símbolo de identidade cultural (kilt escocês ou o traje típico dos derviches turcos) e com o bastante comum abalroamento conceptual do design relacionado com moda.