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(Theo Hutchcraft)
Nos meus tempos de menina e moça (não tão distantes como me parecem), esvoaçava pelos corredores da Faculdade um rapaz que me partiria o coração, não fosse eu uma rapariga esperta.
Jovem garboso e musculado, alto e espadaúdo, cabelo desalinhado e olhos pretos, provocava tsunamis por todo o lado. Um deus tempestuoso pelas brisas calmas das tardes.
O que me fascinava neste rapagão não era o corpanzil perfeito e aquele andar matreiro de patife irresistível (embora não fosse de todo alheia a estas características). Era o brinco!
Uma argola maciça, grande, poderosa e faiscante de ouro puro, presa ao lóbulo da sua orelha esquerda.
Derretia-se todo o meu bom senso quando me cruzava com este adereço, pecaminoso, porque espoletava alguns pensamentos que fariam corar de vergonha a minha avó.
Passei a ficar presa àquela argola presa na orelha do rapaz e só me libertei daquela algema quando percebi que o pirata navegava pelas rotas que deveriam ser apenas minhas.
Roubou o namorado à minha maior inimiga. Foram viver, os dois, juntos e em êxtase, para uma mansarda romântica na velha e corroída Paris e a argola foi vendida para suprir as primeiras desventuras financeiras.
Passei a respeitar mais as inimigas e a suspeitar de argolas deslumbrantes.
Há no entanto, escondida em mim, a fascinação por este gordo e possante adereço. Continuo a não resistir ao charme de um másculo rapagão penetrado pelo estilete curvo de uma argola em ouro. Sei que existe a hipótese de o saber numa mansarda de lata a usurpar o namorado a uma qualquer mulher que não conheço, mas este pormenor não é apanágio ou pertença única de homens com argola numa orelha. Há orelhas sem aro que sabem trair a preços vertiginosamente mais baixos que o do ouro.