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A minha mão passa despercebida, cambaleando sonâmbula no som que os pássaros soltam de ramo em ramo.
A minha mão é ruiva e nem a ferruginosa cor da minha mão permite a inacabada antítese da paisagem do meu corpo.
A minha mão ruiva não é mais do que o rasto que fica, como a ferida de um fruto que se acaba de morder. Um fruto vermelho, uma romã, uma cereja, ou a mordida feroz no coração da tarde ou no meu, que entardece no som despercebido da minha mão sonâmbula.
A minha mão ruiva é desigual a mão que digo amar e é nesse dizer do amor que sinto não sentindo que a minha mão balança na mão que digo amar, porque em mim o amor é sempre o oscilar das cores com que as aves fazem ninho.
Foto - Fernand Fonssagrives - NY, 1945