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Os gerânios estão quietos e amordaçadas pelo frio. Em breve, muito em breve, é tempo de os colher. A minha avó previne.
Há um sossego de sombras no jardim e só a gota de gelo que escorrega do baloiço da folha, estilhaça as pacíficas superfícies da quietude.
A minha avó de pérolas olha o colar de melancolia pousado no regaço. Tem o alfinete de âmbar a prender o xaile, como uma pulseira da cor de troncos de árvores transparentes que enrolou nos ombros.
- Tens de cuidar de tudo, minha pequenina. – Volta a pedir.
Eu cuido, avó.
- Eu cuido, avó. Já não sou pequena.
Olha para mim e toca-me no braço. As mãos como se fossem duas gotas ou dois ventos amenos que se enredam nas sebes do jardim.
- És tão pequena ainda, minha querida. És tão menina ainda! Cuidas de tudo?!
- Eu cuido avó. Descansa que de tudo.
Sorri e volta a olhar, lá fora
- Eu sei que cuidarás. O teu avô sabia.
- Ainda dói muito, avó, a falta dele?
A minha avó de pérolas olha o colar de mágoa pousado no regaço.
- O teu avô olhou tanto para ti que quando te vejo agora, minha querida, sei também do teu avó em ti.
Cuidas de mim?
Cuidar é uma palavra tão perfeita!