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A Gaffe suspeita que este andar de lá para cá e de cá para lá, com coisas pesadíssimas que as empregadas carregam para a mala do carro, a está a cansar imenso e a confundir a visão.
Na autoestrada, a Gaffe sobe o mavioso olhar para um letreio luminoso que a deixa perplexa.
Em letras desenhadas a amarelo, sobre um fundo negro, esta rapariga lê:
Até 15 de Outubro é proibido fazer queixinhas
A Gaffe pensou recuar para reler o espanto, mas um psicopata qualquer que seguia logo atrás decidiu de repente desatar a buzinar como se lhe tivessem rompido as águas. Há gente que não merece que se lhe altere a morada fiscal para Pedrogão. Gente que não sabe relaxar, não deve ter casa de férias. Monstros que podem perfeitamente provocar estragos, assustando as pessoas giras com as cornetas do Apocalipse.
A Gaffe ficou irritadíssima, desistindo mesmo de confirmar o absurdo que tinha acabado de ler.
Foi intrigada o resto do caminho.
Será que é uma pitada de humor daquelas pessoas que gerem as ruas em que uma pessoa não paga portagem, porque pode usar a via-verde? Toda a gente sabe que são criaturas com um sentido de graça retorcido e ligeiramente parvo - basta para o provar o facto de a deixarem passar naquelas cabinas estreitíssimas e sem ar condicionado, logo ali nas entradas e saídas, com umas pessoas dentro não se sabe bem a fazer o quê, sem um pau que a impeça, apenas porque tem uma caixinha colado no vidro. Há gente que não merece o aumento do ordenado mínimo. Vadios!
Será que é uma indirecta à mulher que acusou Cristiano Ronaldo de abuso sexual, de violação, depois de acordar receber do rapaz uma ligeira fortuna para que não abrisse a boca - deixando-a confusa, pois que tinha recebido ordem contrária, algures no mato da festarola do menino d'oiro? Uma prostituta, uma tipa que sabe para onde vai - a Gaffe já ouviu, mais uma vez, esta referência criminosa, mais outra vez, a ilibar um criminoso -, pode perfeitamente ser violada. O menino é apenas vítima de bullying. Mais uma vez, não é?
Será que as pessoas que gerem as ruas onde está o letreiro - pervertidos que espreitam por imensas câmaras que fazem um carro apitar de repente como se fosse uma ambulância fanhosa e deprimida -, sabem que a Gaffe morre de amores por guardas prisionais altos, morenos, barbudos, musculados, suados, fardados e com imenso casse-tête, mas que depois do 15 de Outubro já não pode ser apanhada pelas malhas da Lei, por se encontrar desde a véspera num paraíso que não tem aquela maçuda possibilidade de extradição sabem os deuses para onde. Maldosos!
As hipóteses espalham-se pelo lugar do morto, onde morrem de tédio.
A Gaffe, chega ao destino pronta a engolir um Vallium, tão nervosa que estava, e, envergonhada pela mana, descobre que existe no cérebro um dispositivo nojento que decide apressar a leitura de uma palavra que se adivinha, não se chegando a acabar de ler.
O letreio afinal proibia queimadas. O M foi lido como X - as rodinhas gordinhas e amarelinhas sempre foram rabisqueiras -, e o resto foi suposto de imediato.
Afinal, pelo menos até dia 15, a Gaffe está livre do fogo. Depois Santa Joana das fogueiras francesas poderá ser queimada em nome dela.