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Encontrei o meu olhar de anjo inocente e ingénuo que fica muito próximo, quando o vejo reflectido nos espelhos, do mais sacana dos olhares de caça, à porta do Clube Siècle em Paris.
Preocupada, sabendo-o sem carro, a minha tia suplicava que fossemos esperar o reservado esposo e o acompanhássemos a casa são e salvo. O pretexto - se fosse necessário para estas incursões pela noite dentro, - seria o melhor e o mais abnegado.
Não tínhamos permissão para entrar. Fechavam-nos cá fora. Ficávamos na rua soltas e com frio, à procura de risos e de lume.
O jogo que encontramos para empatar a espera tinha no corpo aquela sinuosa inocência que roça levemente o que é perverso, mas que se agarra sempre à cândida ingenuidade das meninas. Escondiam-se umas das outras e uma apenas uma, encostado à noite mimava uma Lolita.
Esperávamos a saída dos senhores reservados e potentes como grandes e pesados animais de pântano e de charco e, muito aplicadas dentro dos papéis ou do que deles imaginávamos ser o que era o certo, jogávamos a sedução, esperando aquele que nos daria os pontos elevados e que, dizia-se, ser Bispo e muito digno.
De todas, fui sempre eu, a mais novinha, a vencedora. Das raparigas mais adultas nenhuma chegou a reunir os instantes necessários para tal. Perdiam sempre, presas a uma ineficácia desgraçada e uma inaptidão confrangedora.
O meu jogo era o do olhar.
Aprendi a construir a perigosa e insondável inocência de Lolita e os meus olhos decoraram os textos do insidioso abismo da candura, adivinhando o cio paquidérmico.
Nunca à porta do Siècle eu vislumbrei o Bispo. Com dezasseis anos acertamos de preferência nos acólitos.