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É de importância capital o que nós raparigas fazemos com as pernas.
Esquecemos frequentemente que são, por muito incompreensível que para nós seja, uma das armas que dispomos para reforçar vitórias.
São punhais, são serpentes e são rios por onde poetas e flaneurs fazem desfilar todas as palavras, traçando todas as rotas, deixando-se ferir por doces lâminas de carne e envenenar pelo néctar suave que desliza invisível rumo aos tornozelos.
As nossas pernas, minhas caras, são muito mais do que dois instrumentos que nos levam simples e directamente do ponto A para o ponto B. Neste percurso, cabem labirintos e o erro de os ignorar ou desbravar pode atingir-nos de forma fatal fazendo-nos perder dois magníficos trunfos.
No jogo, os homens conquistam usando artimanhas tontas, acreditando que o poder de uma gravata Gucci ou de um Armani perfeito, os torna eficazes. A guerra pelo poder no masculino é feita sobretudo com homens vestidos. A nudez masculina, quando usada na guerrilha, jamais acorrentará uma vitória ao tempo. Os homens lutam vestidos e nem sempre é segura a almejada conquista. As mulheres podem - devem - usar todos os recursos que um machismo idiota lhe entregou de mão beijada.
As pernas de uma mulher - mesmo quando vagamente cobertas por redes de seda - são, nos campos das batalhas pelo poder, dois dos mais possantes e incompreensíveis mísseis de que há memória. Sempre detectados pelos radares, mas nunca recusados pelo inimigo.