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O Inverno chegou mais cedo a Paris.
Morreu Aznavour.
Foram tantas as vezes que lhe procurei a voz para me fazer acompanhar nas tristezas mais dolentes. Tantas vezes lhe dancei na alegria. Tantas vezes o identifiquei com Paris, com as suas ruas friorentas de mansarda, com as janelas ternurentas de porteiras, com os amantes quase venezianos a chorar o fim das histórias que riscaram. Tantas vezes achei o meu lugar de memória na memória cantada desta cidade quase sempre entardecida. Tantas vezes o ouvi até saber do amanhecer da melancolia.
Chegou o Inverno à mansarda de Paris.
Chega sempre cedo o Inverno - num de repente -, quando o que o que finda nos dizia uma árvore de Outono que nos parecia eterno.
Existe algures - e no amanhã também -, numa rua estreita e escurecida, num bar sumiço, sentado a um balcão encanecido, alguém que nas cores do Outono sabe de cor todas as canções de Aznavour.
Talvez por isso o Inverno tenha chegado hoje de repente.
Foto - Hans Silvester