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Não sou grande fã de Liza Minelli e confesso que aquela história do ícone gay só tem piada pela ameaça de cacofonia que traz apensa. No entanto, gosto de Cabaret e quando o vi pela primeira vez fiquei encantada com o boneco fantástico criado por Joel Grey, um MC repleto de ambiguidades e com uma subtil e fascinante androginia, uma espécie de marioneta inteligente que move os seus próprios fios.
Fiquei-me por aqui.
Acontece que acabo de saber que Michael C. Hall tinha sido nomeado para melhor actor principal, na categoria de série dramática, com a interpretação de Emcee, em Cabaret.
Sou uma rapariga muito curiosa e com uma memória bastante sólida. Lembrava-me de Joel Grey (ainda lhe ouvia a voz nasalada e ligeiramente sinistra a saudar o público) e decidi espreitar esta nova versão do boneco.
Com Michael C. Hall, o MC adquire uma animalidade talvez desnecessária e o guarda-roupa, apesar de notável, deixa-me a pensar se o fraque escolhido por Bob Fosse para dar corpo ao Master of Ceremonies não surtia com maior eficácia o efeito desejado, ou seja, criar uma cumplicidade obscura com o elenco que trabalha no palco e quase ameaçadora com o espectador que o vê.
Se Joel Grey era um bicho inqualificável pelo fugidio e pela indefinição e quase a tocar as margens do repugnante, que são os lugares da atracção doentia, Michael C. Hall é um animal poderoso, apelativo e físico.
Escolho, porque sou uma rapariga muito mais perversa do que se possa pensar, o primeiro.
No entanto, se pudéssemos seguir os passos desta fantástica personagem, posteriores ao Cabaret, perceberíamos que Michael C. Hall encaixa nesse derivar como uma luva. Afinal, foi transformado em assassino em série.
Seja com o for, ambos são parecidos com cada um de nós. Tentamos todos atrair o que é preciso, ganhar o necessário, agarrar o desejo dos outros, roubar a consciência do errado usando aquilo que temos à mão, disfarçando aquilo que somos de verdade ou travestindo-nos de nós. Acabamos longe do que éramos ou a assassinar em série pedaços do que somos.