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Em 17 de Janeiro de 2014 escrevi comovida o que agora reproduzo.
Meu querido amigo,
Queria tanto pedir-te desculpa por não ter sido aprovado o direito à adopção plena por casais homossexuais que me sinto humilhada por não o conseguir fazer condignamente.
Quero que saibas que não sou representada por ninguém, onde quer que seja, que ousa e se atreve a pensar ter o direito de ordenar que se elaborem leis que te entram pelo coração desarvoradas e te apertam a garganta com medo, como tu apertas a tua filha contra o peito para a protegeres da irresponsabilidade que é interferir no amor.
Quero que saibas que, se tu quiseres, me caso contigo e que adopto a vossa filha e que me divorcio depois para casar com o teu companheiro que adoptará comigo a vossa filha e que me divorcio dele logo depois para que finalmente a vossa filha seja "legal".
Vamos tramá-los.
Quero que saibas que estou a chorar um bocadinho, mas não quero que te preocupes. Vai passar quando vos vir chegar como há seis anos, os dois, de alcofa inundada pela Felicidade que nunca mais vi explodir de forma tão perfeita.
Quero que saibas que eles ignoram que nenhum afecto é referendável, que nenhuma lei se sobrepõe à capacidade humana de criar um filho e que tu e o teu companheiro se vão fazendo pais da vossa filha pelo caminho que o meu pai e a minha mãe já percorreram.
Sou heterossexual - nunca to disse! - e ruiva e tu és homossexual - nunca mo disseste! - e tens os olhos pretos mais profundamente paternais do universo.
Creio que hoje começa a não fazer sentido o que foi escrito, mas convém gravar na pedra que as construções, sobretudo as mentais, necessitam da consciência plena do passado para que, empunhando essa ferramenta, se erga sólido o que se quer construir para o futuro.