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Conheço a D. há alguns anos. Com ela estabeleci uma relação de intimidade fria, distante e repleta de reservas, mas que não impede que goste muito dela, da sua exuberância, da leviandade e da ambição desmesurada que a torna tola e esgrouviada.
Costuma encontrar-me no corredor e enfia-me num canto qualquer para me narrar as suas mais díspares e mirabolantes aventuras. De tailleur irrepreensível e cabelo espigado, a pequena D., para além de fanática por dietas e legislação, tem um filho adolescente que encontrei por duas ou três vezes pendurado na mãe a lambuzar-lhe o decote.
Hoje pescou-me logo manhã cedo.
- O meu filho disse-me que beijou um rapaz!
Não gosto de confidências deste teor. Evito-as sempre que posso, porque sei que cedo ou tarde se tornam embaraçosas para os envolvidos, sobretudo para os que por inadvertência me cochicham inconfessáveis penas e lamentos.
Procurei manter a distância do secreto e segredado beijo que descuidado, imberbe e imaturo, foi resultado apenas do que ter quinze anos faz fazer. Uma amostra, uma prova, um provar e um ensaio.
- Claro que sim! - Resmunga a mãe. - O que me preocupou imenso foi o lugar onde o beijo aconteceu. É lá lugar para tal?!
Quero saber. Não fosse encontrar gente nos recantos que são meus.
- No cemitério!
Agora entendo as lápides partidas.