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Dimitris Papaioannou é um dos meus coreógrafos preferidos e esta é uma peça comovente.
Há comoções que surgem do encontro com a perfeição, com a beleza. Aquela que é composta, parecendo simples, criando um sentimento de perda ao ser vislumbrada, ou com a fragilidade do encontro com a consciência da mortalidade.
Parece ser o caso.
É sobretudo uma obra de antíteses e talvez por isso se torne tão comovedoramente convincente e despojada. A antítese está na origem do equilíbrio. Neutraliza.
Tudo aqui tende a compensar-se com o seu contrário:
Encontro/desencontro;
Ganho/perda;
Hesitação/certeza;
Distância/proximidade;
Desejo/aversão;
Sintonia/desarmonia;
Ternura/desapego;
Complementaridade/impenetrabilidade;
Cumplicidade/despreendimento;
(…)
Existe na peça uma espécie de núpcias em que o reconhecimento reflexivo e reflectido de mim num outro é utilizado para sossegar a fatalidade final de uma condenação solitária.
É bem melhor estar calada. Ficar quieta e deslumbrada a reconhecer que, exactamente como nesta peça, quem ama apenas se reconhece nos espelhos que não reflectem, porque estão vazios de tempo e de morte.
Pasmemos: