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A mulherzinha é minúscula e usa casacos de malhinha e saias de fazenda grossa e bugigangas nos dedos. Tem medalhinhas presas na lapela e brincos de pérolas falsas agarrados as orelhinhas pontiagudas.
Reza muito.
Tem olhinhos maldosos e insignificantes que se espetam nas costas de quem passa como alfinetes-de-ama, de dama da rua, e sorrisos mesquinhos e sinuosos de velha cínica ou de mentirosa. Tem mãos papudas, mas os nós dos dedos parecem berlindes. Os gatafunhos das rugas são traidores e mentem nos rabiscos que parecem mansos.
A mulherzinha pequenina, pequenina, pequenina, é uma assassina. A sua alma foi a vítima mais tenra quando a apanhou numa curva mole da mama descaída.
A mulherzinha pequenina, pequenina, pequenina, odeia. Desde o primeiro instante em que nos vê. Desde o primeiro segundo. Baba-nos as mãos com sorrisos castos e lambe-nos os dedos com línguas de doçura, mas rói no escuro do palato as nossas vidas salivadas de rancor.
A mulherzinha pequenina, pequenina, pequenina, crava as gengivas nos tornozelos daqueles que, incautos, se atravessam nos caminhos podres que são dela e que ela defende rosnando mel envenenado.
A mulherzinha pequenina, pequenina, pequenina, espera chegar ao céu, inventado pelo marido que lhe fugiu, através de sacras estampas que cospe nas mãos dos que por ela passam. Oferece-nos santinhos para se proteger das tentações.
A mulherzinha pequenina, pequenina, pequenina, abençoa-nos.
A moral da mulherzinha pequenina, pequenina, pequenina, é um quadro de revista e tem coxas flácidas. Tem mamas grandes onde se esconde a caspa da indignação de cinta elástica que amarfanha as banhas das ideais.
A mulherzinha pequenina, pequenina, pequenina, usa nos dias de chuva um tacho na cabeça e vai gritar para a rua Heil Hitler!, sempre que soam umas botas de macho no pavimento da sala-de-estar-na-vida-sem-nada e só porque o homem que ressonava com ela na cama era a sombra do cadáver do ditador e marchava ao som das gaitas dos peitos de galinhas.
Há sempre chuva nos dias desta mulherzinha.
A moral da mulherzinha pequenina, pequenina, pequenina, que nos dá um santinho para nos proteger de toda a tentação, é uma gorda e empanturrada perua. Vai à cabeleireira e pede-lhe que lhe cuide das unhas com que rasga as costas ao sonhado amante, milhões de anos mais novo. Suplica que lhe pintem as melenas e que lhe contem novidades acerca da outra que na noite anterior se partiu contra um camião, só para ter pena.
A moral da mulherzinha pequenina, pequenina, pequenina, velha macaquinha arrepiada, franze as sobrancelhas depiladas e torce o nariz com mil cuidados - o estuque na cara! - quando fala do mundo. Viúva da sua vida a tomar chá com morcegos e a olhar para nós, provocando-nos blenorragias.
O rabo da moral da mulherzinha pequenina, pequenina, pequenina, que nos oferece santinhos, não sabe sequer onde desaba, que não vale sequer as pedras e os bancos onde tomba, mas que é sagrado e meticulosamente tapado, porque não sabe que os Nus são os raros e a Nudez é o lugar onde violentos nos amarfanhamos, fazemos amor e adormecemos.
A mulherzinha pequenina, pequenina, pequenina, pactuou com a morte e enquanto o tempo passa, faz o trabalho dela, no interior das vidas.
A morte enojada assiste.
Cartoon - Tetsu