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Deparamo-nos por vezes com imagens que nos surpreendem, porque acabam por ilustrar uma das partículas de que somos feitas.
Esta é sem dúvida uma delas.
O homem do carro estacionado provavelmente procura desbravar os mistérios femininos com cuidados quase florais e tenta, inútil e sem qualquer sucesso, domar os bichos que somos, enquanto que - sem esforço desmesurado -, o garanhão bruto e tatuado, sem pouso certo e sem nada que se possa rentabilizar, fica fora de nós, aguado e a desejar o objecto que acredita ser o que nos convence.
Ouço dizer as más-línguas que o carro que um homem escolhe é o reflexo invertido da sua piloca, que um bólide gigantesco significará, portanto, uma pilita frouxa, quase impotente e humilhantemente pequena.
A não existir um completo erro nesta afirmação. Os homens que se deslocam em carros inimagináveis e quase absurdos de tão poderosos, com preços descomunais, são todos ineptos sexualmente. O carro compensará, desta forma, os exíguos apêndices que trazem entre as pernas.
Penso, no entanto, que esta espécie de compensação não se prende com tamanhos ou desempenhos de índole sexual.
A questão é mais oblíqua, mais insidiosa.
Suspeito que a potência do carro se liga normalmente à insegurança do dono, na cama em que é deitado. Quanto maior for a cilindrada e o aparato do popó, mais frágil, inseguro, hesitante, manobrável e irresoluto é quem o compra.
Não gosto de carros, mas reconheço que é proveitoso uma rapariga não seleccionar os rapagões sem primeiro conhecer os volantes que controlam. Alguns dos melhores, andam a pé.
É tudo uma questão de deslocações financeiras e de mecânica do prazer.