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A Gaffe ficou sentadinha à espera que Afonso Cruz entrasse no Contentor 13 e ficou apaixonada.
O homem é lindíssimo, apesar da barba mal tratada! Tem uns olhos do tamanho do mundo, doces e ternurentos, uma boca e um sorriso de deixar a Gaffe derretida e a pensar se as estrelinhas que vê pertencem apenas ao libidinoso sonho de acordar com ele na cama.
A masculinidade do rapagão desaba sobre nós com uma suavidade inesperada e a voz baixa e ligeiramente cava arrasa-nos o coração.
Os depoimentos que coadjuvavam o documentário foram inúteis. O testemunho da senhora que o edita, escapa e é ouvido sem surpresas, mas é desastrosa a participação da amiga do escritor. Surge de repente uma mulher pedante a esbardalhar análises literárias pretensamente eruditas, com um cheirinho psicanalítico misturado com Voltaire que esconjura sempre que pode, fazendo-nos suspeitar que decorou o nome na véspera. Uma chata inútil com a boca repleta de frases feitas que consegue a façanha de aborrecer mesmo quem a deixou de a ouvir logo de início, embora não tenha deixado escapar a barbaridade que soltou ao comparar o amigo a Gonçalo M. Tavares, mas com alma, subvalorizando o escritor em foco, aproximando-o de um outro ainda por cima da mesma geração, vivo e a mexer – é sempre aconselhável comparar um autor vivo com um autor morto há muito tempo -, e reduzindo Gonçalo M. Tavares a uma máquina que produz uma gelada intelectualidade. A verdade é que Afonso Cruz às vezes, longe, muito longe, lembra o mais ínfimo e o mais imperceptível risco breve de Gonçalo M. Tavares, mas o contrário também é visível. É uma tolice retirar a alma a um para valorizar o outro.
A Afonso Cruz devia ter escolhido um inimigo.
É evidente que este homem é um magnífico escritor. A Gaffe ficou rendida debaixo dos seus guarda-chuvas, mas o impacto físico do rapaz, nunca adivinhado nas pobres fotografias, deixou-a muito bem impressionada e decidida a dispensar os habituais e maçadores critérios literários na apreciação dos novos vultos da nossa escrita. Há imensa gente que escolhe os livros pelas capas ou pelos títulos, a Gaffe não vê nenhum inconveniente em seleccioná-los pelos rabiosques dos autores.
Se José Luís Peixoto tem as perninhas curtas e gorduchas e um sorriso macabro; se Valter Hugo Mãe nos surge anafadito e baixinho pronto a rebentar os botões das camisas pretas, com uma barba empolada que até lhe alarga as ancas; Se Tordo tenta ser tão pouco atraente como é tão pouco escritor e se Gonçalo M. Tavares quer parecer um civilizado troglodita tímido e tão interiorizado que não deixa espaço para uma visão mais do exterior, a Gaffe fica reduzida às estupendas nádegas e aos volumosos peitorais de Afonso Cruz que são sempre óptimos de ler ao deitar.
Tendo em conta os factos, a Gaffe espera ansiosamente que o rapagão escreva muito mais.