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Há acessórios que substituem na perfeição os braços de um homem. Usados, dão-nos por comparação a certeza da fragilidade de uma história de amor embora nos causem também algum incómodo. Transportar o da imagem não deve ser como esquecer um caso amoroso que não foi entrançado com os fios correctos.
Tentar saber quais são os filamentos que conseguem, de forma certeira e consistente, tecer uma narrativa de amor, é uma tarefa que de tão inglória nos deixa sozinhas, espapaçadas no sofá, a mirar o infinito.
Há quem nos diga para não pensarmos nisso, para vivermos cada sopro do vento, cada minúsculo movimento de uma folha, cada suave deslizar de um seixo. O tempo encarrega-se de transformar um fio de baba em fio de seda.
Concordaria, não fosse a minha amiga - há sempre uma oportuna amiga nestas coisas - a brutalizar este rasgo muito ao gosto de Confúcio.
Viveu, a pobre, uma história de amor quase encantada, unida a um homem que, de tão perfeito, conseguia a façanha de estar sempre presente, mesmo quando as ausências eram mais frequentes. Um príncipe que nem sequer passou pela fase de batráquio.
O principado implodiu quando o viu entrar afogueado e aflito na urgência hospitalar - onde, bata branca e estetoscópio em riste, a interna da especialidade socorria os mais feridos - com um filho nos braços (um episódio de asma, nada grave) e com a preocupada esposa apensa, loira, linda e chorosa, arrastando o segundo rebento pela mão.
Enfrascou um Valium 10, pediu que a substituíssem e foi para casa destruir à pancada os bichos-da-seda.
No dia seguinte foi comprar acessórios.
Enrolada em caxemira, ainda a pode encontrar numa loja perto de si ou no sítio do costume.
O amor não escreve histórias, por uma das razões mais prosaicas que conheço: todos os brevíssimos momentos de felicidade que vivemos, são analfabetos.