Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Tédio despropositado.
Os meus lençóis agarram o meu cheiro e a minha nudez espalhada é indiferente ao espelho.
A minha cama sempre pareceu um ninho de um bicho espalhafatoso e exuberante! Nunca consegui dormir de forma calma. Envolvo-me e rebolo no sono e no sonho e destruo a primorosa obra das manhãs tardias em que os lençóis se dobram, se alisam, se amaciam, se distendem, se prendem e engomados dispersam o perfume lavado dos amanheceres mais claros.
Mas hoje acordei e tudo era perfeito. Como se ninguém tivesse dormido na véspera. Como se fosse dia de amante noutro lugar amado. Nenhum vestígio de inferno, nenhum cataclismo surdo e mudo e inconsciente. Nenhum tumulto, nenhuma multidão amorfa de panos misturados e confusos.
Em mim o tédio invade até as noites e faz morrer as ondas do meu sono. Durmo na planura da indiferença e na quietude apática dos tristes.