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A Gaffe não ainda não comentou a entrada do Cante alentejano no limbo do património imaterial da humanidade, porque queria primeiro que os rapagões chegassem a Serpa vindos de Paris. De braços dados, oscilando e dando aqueles passinhos, a caminhada leva o seu tempo.
Antes de tudo, a Gaffe refere que já teve uma breve e leve paixoneta por um alentejano que não se apercebeu do facto, tão ocupado que estava com uma quantidade desalmada de azinheiras descascadas que lhe toldavam a vista, e que portanto não é por malvadez ou preconceito que se vai sujeitar a ser linchada.
A Gaffe desconfia que a UNESCO estava com imensa pressa quando despachou o assunto. Estamos na época de Natal, há presentes para comprar, Deus sabe como são sinistros os Centros Comerciais na véspera da consoada e ouvir:
(solo) Ó AlenteeeEEEeeeejooo a cantaaari
(coro) Que o cante já é reseeeEEEeeerva
(solo) Da UNESCOOOO a afirmaaarAAAaaari
(coro) - Quem nã gostar cooooomaaa eeeeeerva
(coro) … ééérdaaaa.
só nos despacha com alguma sorte lá para Fevereiro.
É perfeitamente admissível que a UNESCO não tenha tido tempo para ouvir as resmas de coros polifónicos cravados, por exemplo, nos estilhaços da ex-União Soviética ou que não se tenha apercebido que não existe mais do que uma ou duas cadências rítmicas que embalam as quadras que, demos graças, não são a obra completa de António Aleixo, coisa que faria um cante terminar lá para 3015.
Depois, ter um bando de alentejanos de barba rija e cajado atrás da porta à nossa espera, pesa consideravelmente nas nossas decisões.
A Gaffe pensa que encharcar um rapagão em Valium empurrado pela goela abaixo por um belíssimo tinto maduro alentejano, dá sempre um resultado oscilante e vagaroso, entaramela a voz e arrasta o ritmo, mas fica felicíssima por saber que a UNESCO ficou convencida e com tempo para as comprinhas da época.
A Gaffe rejubila, embora suspeite que na sua ceia de Natal vá haver eeervaaa.