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A Gaffe descobre com alguma perplexidade que, ao contrário do que pensava, existem blogs que lhe eriçam os dedos dos pés. Embora a Gaffe use um verniz deslumbrante, ver os dedinhos todos arrepiados não é de todo uma situação que a lisonjeie.
Cuidava esta rapariga tonta que apenas a presença física de alguém lhe poderia causar algum desconforto. Há criaturas que por instinto a Gaffe reconhece lhe provocarão atritos irremediáveis, mesmo sem qualquer ponto de contacto imediato. Aproximam-se e revelam a capacidade de lhe causar pele-de-galinha.
Basta um mover de asa, brando e leve, um sorriso que passa pela brisa da tarde, um gesto a flutuar sobre a copa das árvores, um olhar que paira na rota do nosso, o mau hálito e as mãos papudas.
A Gaffe sabe de imediato que jamais conseguirá suportar a presença do bicho.
Acontece que esta rapariga descobriu que reage da mesma maneira com alguns escribas que por aqui se esforçam.
Como se a escrita fosse uma presença física que se aproxima, a Gaffe mal toca nos primeiros parágrafos apercebe-se do abismo que do resto a separa.
Lembrou-se do facto quando, depois de o ouvir e ter sentido um gelo ligeiro a trepar-lhe a espinha, encontrou e leu João Miguel Tavares.
Ilustração - Coby Withmore