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A Gaffe considera um exercício interessante o que a faz tentar reconhecer nos seus políticos caseiros as maravilhosas figuras oriundas da banda desenhada que os queridos tanto tentam encarnar em época de eleições.
É evidente que existem regras neste jogo que dificultam a tarefa:
- A Gaffe tem de se cingir aos super-heróis da Marvel. Não pode escapar-se para universos mitológicos que facilitariam imenso a atribuição de papéis e que identificaria de imediato Heloísa Apolónia com a Corneta do Apocalipse ou o Bloco de Esquerda com Medusa, por questões cerebrais e porque o partido se vai transformando ele próprio num mito.
- A Gaffe não pode recorrer aos vilões das histórias. Seria óptimo poder atribuir a função do Pinguim a Marques Mendes ou a de Joker a Marcelo Rebelo de Sousa, mas o desafio tornar-se-ia menos motivador, porque mais fácil.
- A Gaffe não pode avocar super-heróis de segunda linha. Se tal acontecesse teríamos preenchido o elenco com demasiada rapidez. A Jerónimo de Sousa seria entregue o papel de Incrível Hulk, porque não necessita de grande caracterização e porque o verde lhe fica bem. O papel de Homem Invisível seria como se espera para o Secretário de Estado da Cultura, fosse ele quem fosse. Iron Man iria directo para Ana Gome e Catwoman para Ferro Rodrigues, rentabilizando a sua experiência em telhado de zinco quente. Flash seria interpretado pelo juiz Carlos Alexandre - que não é político, mas que disso é acusado - dada a rapidez com que se move entre processos e o Homem Elástico por António Costa, tendo em consideração a flexibilidade que lhe vai ser exigida para contornar 44 situações embaraçosas que é maçador referir aqui, até porque fazem esquecer as outras, mais que tantas, que terá de manobrar depois das eleições. Seria tentador, em consequência, atribuir-lhe o papel de Mandrake, com coelhos a enfiar na cartola e passes de mágica a fluir da capa, mas o ilusionista nem sequer tem super-poderes!
- A Gaffe tem de lidar apenas com os super-heróis de primeira linha. Os mais celebrados e os mais activos. Os três hiper.
(Não vale estragar a imagem, porque a Gaffe quer colori-la depois de a imprimir)
É evidente que o Super-Homem vai directo para José Sócrates. Existe imenso em comum entre estes heróis! Clark Kent usa uma cabine telefónica para se transformar, Sócrates usa um apartamento em Paris. Nem a cabine nem o apartamento são propriedade dos usufrutuários. O Super-Homem usa as cuecas por cima do fato, Sócrates parece que as vestiu também assim – pelo menos, a Gaffe tem visto bastante roupa suja. Quer o super-herói, quer Sócrates, usam a mesma inicial no peito. Clark Kent rasga a camisa para a vermos refulgir, Sócrates rasga os embrulhos que não são recusados pelos mauzões dos carrascos de Évora, para escrever aos jornais, mostrando o logo.
É lógico que o cenário em que o colocaríamos seria o de uma hecatombe. Uma paisagem bombardeada por kryptonite. Mas a Gaffe suspeita que, arrefecido o vigor do nefasto mineral e com o aflitivo apoio de Robin, encarnado por um Mário Soares subitamente adolescente, a praça pública ver-se-á ainda obrigada a pagar para que o super-herói abandone definitivamente o disfarce de Kent e sobrevoe o povo com o S liberto de culpa ou vergonha.
A atribuição de um papel a Paulo Portas não é tão simples como a primeira braçada faz supor.
Seria previsível, mas desprestigiante, entregar-lhe o de Aquaman ou, com maior subtileza, o de Surfista Prateado. Não são dignos do arcaboiço do actor. Paulo Portas é sem dúvida o Homem Aranha. Ninguém como o vice-primeiro-ministro dá piruetas agarrado às teias que vai esguichando.
Resta o super-herói favorito da Gaffe. O seu querido Batman.
Convém nesta altura referir que Batman já foi interpretado por Ben Affleck.
A Gaffe já viu Ben Affleck nu. A Gaffe tem a imagem de Ben Affleck nu cravada na retina. A Gaffe tem imensa dificuldade em substituir Ben Affleck, porque a Gaffe viu Ben Affleck todo nu e Ben Affleck todo nu é uma imagem muito grande. A Gaffe depois de ter visto Ben Affleck todo nu ficou muito limitada e bastante atordoada. A Gaffe identifica irremediavelmente Ben Affleck com Batman, porque dessa forma acredita ter visto o que todas as raparigas desejam: O Batman todo nu.
Após este pequeno apontamento é de concluir que o papel de Batman não pode ser atribuído a não ser a Ben Affleck todo nu.
Seria no entanto empobrecedor se deixássemos Passos Coelho fora do elenco, sobretudo sabendo que o Primeiro-ministro gosta tanto dos palcos.
Há solução!
Tendo em conta a abnegação de Passos Coelho, a sua quase aversão ao cargo que exerce, o sacrifício que faz em nome do país, colocando-o à frente da sua sobrevivência eleitoral, atribuindo primazia, não à luta pelo voto, mas a valores que mais alto se levantam, a Gaffe consegue atribuir-lhe o papel, não do Morcegão, mas do morceguinho que colado aos focos se imola em nome de Gotham.
Por fim A Gaffe fica com o papel de Super-Mulher por atribuir e com um político sem papel a interpretar!
Não encontra a não ser Joana Vasconcelos para viver a super-heroína. As duas rodopiam com uma força descomunal e embora Joana Vasconcelos o faça mais na cozinha – esporadicamente no WC - causando um pandemónio nos tachos, azulejos, colheres de plástico e garrafas, ambas estão ao serviço da tradição, da moral e dos bons costumes, como provou a artista ao acatar submissa a proibição de expor em Versailles o seu lustre de tampões. Não é política, mas imita bem.
Infelizmente a Gaffe não encontra um papel para Cavaco Silva! Pensou no Fantasma da Ópera bufa (ou na bufa do Fantasma da Ópera), mas Cavaco não frequenta lugares que desconhece e onde há gente que substituiu o diálogo sereno por um gritedo desalmado.
A Gaffe, para que o Presidente não seja excluído, atribui-lhe o papel de balão. O balão desenhado para simular as falas ou o balão em nuvem a indicar que se pensa.
Um balão. Sem nada escrito dentro.
Et voilà!