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O fumo faz-lhe erguer a sobrancelha. A minha avó chega atrasada e justifica:
- Uma mulher deve-se adornar para os homens belos. São os únicos que a conseguem ver despida.
Sorri. Que não a incomoda o corar do meu irmão.
Entrega-lhe o isqueiro para que lhe abrase um cigarro novo. Depois brinca com a cigarreira aberta.
-Reparo, meu querido, que se refere a ela como a sua amiga. Soa a Cantiga com iluminuras, mas porque não diz a minha amante?! Sabe que mudam de cor essas palavras sempre que são ditas?
Avó, não sabe. É tão pequeno e triste como eu.
- Mas é verdade. Dizer a minha amante transforma os lábios e a cor dos olhos. As palavras ganham todas as nuances da alma de quem diz.
A senhora e a cigarreira de prata que não se abre à luz que vem coada por um quebra-luz. Um quebra-luz, avó, que a luz pode quebrar, mas não se abate.
- Na minha boca, meu caro, o meu amante sempre teve a cor do meu bâton.
A senhora afasta a onda do cabelo.
- Ciclamen Rose. - Um suspiro que faz doer como um corte de papel.
- A cor do meu bâton. Já não existe.
E a senhora fecha a cigarreira com um clique.