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Está tão bonito!
Escolheram-lhe um Armani quase preto e uma camisa imaculada de seda lisa, de colarinho alto e de punhos dobrados.
Tem os olhos negros, grandes e aveludados, repletos de brilho. A barba primorosamente tratada e desenhada e o cabelo desobediente que começa a formar caracóis largos e soltos que detesta. O fato favorece-lhe a figura alta, morena e encorpada, musculada. Torna-o ainda mais viril, mais destacado. Consegue anular o rodopio de gente que saltita pela sala picotada por uma excitação pueril e perfumada.
A minha irmã estatelada na poltrona analisa o verniz e confere a cor do bâton. Afasta a planície loira dos cabelos e declara com a solenidade dos fúteis a impaciência que lhe provoca a espera do beijo do rapaz de Armani.
Eu, menina parda, cresço de orgulho e pendurada no braço dele ouço tilintar o sorriso do universo.
Somos cúmplices no crime mais perfeito, o amor que é visto de frente, aquele que é impune, isento e inalterável.
A minha irmã brinca com as fiadas de pérolas do colar e retoca o cabelo agora preso, liso, tão perfeito que dói se olharmos de repente. É-lhe indiferente o vibrar da sala.
A minha mãe coloca os botões de punho na camisa do homem.
Agora faz parte do Círculo das pérolas.
Comove-se o rapaz!
Está tão bonito, o meu d’Artagnan das noites de Paris. Tão viril e tão perfeito, tão sincero e tonto, tão inculpado e tímido, porque parece tímido agora.
Todas as criaturas que amo parecem tímidas e no entanto guardam a espantosa bravura de viver e a coragem descarnada de o fazer com a limpa luminosidade dos heróis.
Aproxima-se de mim.
Os olhos negros, negros, negros e um sorriso aberto em claridade.
Abraça-me com a força dos valentes e diz-me murmurado ao meu ouvido:
- Achas que estou bonito? – e depois, na mais solar das inocências - não quero desiludir a minha mãe.
Deuses!
Estás tão bonito, Pedro!
És tão bonito!