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O vento encharca o perfume das tílias. Transforma-o em baloiços largos, soltos, como uma dança de mulheres entristecidas.
Ontem choveu. Ainda existem pequenos charcos nas fendas largas das pedras.
O anjo do lago assustou as carpas que se esconderam da sua eternidade a escorregar para o dorso da água picada pelas bátegas.
Nada mais existe a não ser a mobilidade de nuvens desfeitas que se enrolam no vento.
Ontem a chuva bateu nos vidros das janelas. Pareciam dedos, a chuva, e cinzentos a azular quando era longe.
A alameda tombou de pena ou de ternura. O silêncio tem a voz da chuva a desabar na terra.
Se nos sentarmos direitos - a chuva exige a verticalidade dos corpos, mesmo daqueles que se sentam -, de mãos fechadas, uma sobre a outra, na cadeira que colocamos perto da janela e olharmos com muita atenção o caminho por onde se define o azul longínquo, logo atrás da chuva, vemos florir as gotas de água a esbater os contornos da tristeza.
Isto, claro, se não chover também nos nossos olhos.