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Não consigo falar de um fôlego só dos meus dois amores que surgem à frente da novíssima e pobre vaga de escritores portugueses.
A obra Matteo perdeu o emprego de Gonçalo M. Tavares, é aquela que escolho para depois, apenas porque soa ainda na sala o som aquático de Afonso Cruz.
Da série Enciclopédia da Estória Universal, Mar recolhe breves pedaços de água em sal entrelaçados, intrinsecamente ligados por uma inevitabilidade que agarra de forma terrível a infância e à maturidade, atravessada, a primeira, por uma rapariga que colhe cartas de amor presas em garrafas por um músico que escreve a perdição da esperança, e, a segunda, por homens tresmalhados, como aquele que traz tatuado o céu na pele.
Um livro que abre com a inquietude presa a uma estupenda e crua imagem de invernia:
1 Um recado: “Estou lá fora, morta, não tragas a miuda”.
2 Prevaleci agarrada à mão do meu pai.
3 Ficámos os dois parados.
4 A olhar a porta.
5 O pai saiu, o bilhete caiu no chão. Senti aflição e ranger de dentes.
6 Do outro lado via-se a mãe a baloiçar no plátano.
7 O plátano não tinha folhas porque era Inverno e o Inverno extermina as folhas dos plátanos.
Depois, cada letra, frase, cada passo no aforismo, cada escolha de trecho a citar, enche-nos de sal e de reflexos de humanas emoções de náufragos que somos - e não ilhas.
Uma obra imperdível.