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- Já é tarde. São já horas de me levantar. - Preocupa-se o rapagão.
- São sempre horas de fazer qualquer coisa. - Respondo, pousando as mãos nas suas costas nuas.
- Nunca são horas de dormir. O relógio cortou-as dos ponteiros. Agora, todas as horas são horas de ficar acordado só para te ver. - Responde ele, meigo, meigo, meigo!
- Não durmo quando tu estás por perto. - Continua.
Tão mentiroso!
O rapaz ressona toda a noite.
Tornou-se fácil contornar o seu roncar de animal pré-histórico. Uma cotovelada nos rins, um empurrão vigoroso e o moço emudece quase derrubado.
Tornou-se fácil evitar o vício que ele tinha de adormecer, custasse o que custasse, comigo pousada no seu ombro: babo-o propositadamente a fingir que é sono.
O meu calvário é a perna pesadona que encontro sempre em cima do meu corpo todas as manhãs. Por muito que suplique, não adianta. O gigante adormecido, boca aberta e barriguinha virada para o ar, atira toneladas sobre mim. Acordo com aquele mostrengo esparramado, pousado pesado, colando as minhas coxas ao colchão. A desmesurada perna, a penosa perna, a descomunal coluna de basalto, por muitas voltas que eu dê, vai sempre desabar em cima do meu jovem ruivo e frágil corpo de alabastro.
Observei cautelosa, não fosse deslocar parte de mim no já planeado arremessar da perna porta fora.
Que vejo eu?
Descubro que o rapagão não tem noção nenhuma de pudor e o que se me depara, não sendo nada que me faça entrar em choque, é a tentação à mão de semear.
Finalmente a solução servida, não de bandeja, que não se come o sono, mas de calças de pijama esbardalhadas.
Um piparote, uma traquina traulitadita breve, no desprevenido amanhecer masculino e ambas as pernas se erguem espavoridas no meio do espaventoso e desarvorado acordar do homem.
Não há rigorosamente nada como um acordar em grande.