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Há, ali no Douro, duas tasquinhas que distam uns bons kms da casa.
Há uma que fecha nos dias do costume. A outra tem cheiro a coisa envelhecida e um homem sinistro, de camisa ao xadrez, avental encardido seguro por um gancho e um sorriso preso pelos cantos.
O discretíssimo beijo que o meu rapagão me pousa no ombro antes de me deixar - espero ali ao fundo, sim? -, não passa despercebido a um minúsculo carrapato de bigode fino, cabelo lambido, pele esverdeada, cigarro colado ao lábio e olhos de ratazana míope, sentado no escuro de um canto da vida, a jogar à bisca com mais três ou quatro.
Entro e procuro um dos bancos demasiado altos próximos do balcão. As minhas pernas não se conseguirão encaixar de modo confortável no espaço exíguo, mas tudo é melhor do que o assento sebento das cadeiras.
Aproximo-me e quando rodo o tampo do banquinho e me proponho pedir a água tentando evitar a todo o custo o olhar incómodo do homenzinho raquítico, sinto-me empurrada e ouço o nojento e esganiçado cigarrito sem filtro que numa referência à minha ousadia feminina que invade o espaço destinado aos homens espirra a idiotice costumeira.
Olho para baixo. O bigodito sentado do hominídeo mal me chega ao umbigo. Um estalo meu e engole o tabaquito, mas aprendi com as mulheres bravas do Douro a repreender os cachopos ranhosos e mal-educados. Basta agarrar com força o cabelito que nasce na nuca e, presa uma pequena madeixa, puxar com força rumando em direcção ao céu onde as luzinhas de lancinante dor descem e invadem todos os sistemas, nervosos ou não.
O homúnculo ganiu e depois de o largar resmungou baixinho trincando a beata apagada.
Saí com a água e com as facas dos olhos dos homens cravadas nas costas.
Ainda hoje não sei como retirar dos dedos a sensação de que toquei num verme.