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O queridíssimo António Lobo Antunes declarou hoje - imagine-se, logo hoje que a Gaffe está tão indisposta! -, lamentar que Portugal e Espanha não sejam o mesmo país.
A Gaffe culpa a Catalunha de 1640 pelo desgosto de Lobo Antunes. Não fosse a barulheira catalã - uma piolhice! - que estourou nos excelsos dedos de Filipe IV, Sua Majestade não teria de optar entre a região mais rica e a mais pindérica do reino. Atirou-se à primeira, pois que um rei não tem só a coroa para compor o outfit e os brincos, os alfinetes, as medalhas e colares já tinham deixado de crescer nas caravelas.
A Gaffe acha parola a indignação dos mais que muitos.
- Lobo Antunes é um escândalo – rasgam-se livros.
- Morte ao traidor! – aproveitam os desfesnetradores.
- Mântua para rua, que o povo continua! – ou outra maçada qualquer a rimar.
Este complexo de inferioridade português inflama-se e incendeia as hostes patriotas, de forma tão medíocre e patega, sempre que alguém estica um fósforo de um dislate, um desconchavo de um pirolito, ou sopra à toa uma laracha mais ou menos exibicionista, ou mais ou menos provocadora, que revolve o quintal à beira-mar.
António Lobo Antunes lamenta que Portugal e Espanha não sejam o mesmo país.
O facebook desata aos berros, o twitter aos gritos, os blogs aos urros e a D. Teresa estrebucha histérica no túmulo - pois que tanto lhe custou arrancar o dote à unha do pai -, sem primeiro se ter a delicadeza de resguardar Letízia da poderosa onda de choque.
Se o homem queria muito que os dois países fossem um, pois que continue a alimentar desejo e dor. Não faz grande mossa.
A Gaffe, francamente, preferia ser dinamarquesa. Ou viscondessa, vá.
Ilustração - Jean-François Segura