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As sardinheiras vermelhas vieram de Espanha, encomendadas pelo meu avô.
Chegaram num camião em vasos pequenos.
- São a minha extravagância.
Explodem nas estações quentes. Com folhas do tamanho de nenúfares. Dentro de bolas verdes, bolas vermelhas de flores, como os vermelhos que deveriam ser os de todas as bandeiras.
E a mulher debulhada em lágrimas.
- Deixa-a, minha querida. Tem saudades.
Eram podadas no início do Outono, as sardinheiras espanholas. Quando os jardineiros municipais começavam a decepar os ramos das árvores nos jardins dos parques da cidade.
O meu avô cortava-as rente.
- São a minha extravagância.
Para que explodissem depois multiplicadas.
E a mulher que não se cala.
- Deixa-a, minha querida. São saudades.
Ficaram por podar, as sardinheiras espanholas. Com os ramos torcidos e esqueléticos. As sardinheiras espanholas que chegaram em vasos pequenos. Dão-se em todo o lado.
- Plante-as e vai ver como se espalham num instante.
E os ganidos da cadela … e o choro debulhado da mulher.
- Deixa-as, minha querida. Há lágrimas que dão sentido à vida.
Ontem, com a tesoura que ele usava, podei as sardinheiras espanholas. Cortei-as rentes, em bisel, como ele me ensinou.
São agora a minha extravagância.
Na foto - Piaf por Jean-Philippe Charbonnier