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Há uma expressão francesa que me agrada imenso.
Entre le chien et le loup
É crepuscular. Define o período de tempo em que a tarde declina, resistindo ao avanço da noite. Dura alguns minutos e mantém os gatos coloridos e pardos os meus olhos.
Se esmagarmos o tempo de duração deste momento, o contido na expressão é ajustado a nós, aquando das caçadas.
Há um espaço ínfimo, uns segundos imprescindíveis, um bater de garra recolhida, no instante em que uma mulher, perante um homem, percebe que tem de desferir o golpe ou então deixar que ele lhe morda a jugular.
É indispensável que a vítima não tenha a mínima noção do decurso do instante. É necessário que não entenda que a nossa ternura, o canino enternecimento, a mansidão, a brandura, o benigno olhar em suavidade emersa, é já lampejo cru de sanguinária fera.
Não há nada melhor e de eficácia mais certa do que armadilhar a tarde que vai perdendo as sombras.
Ilustração - Ernest Chiriaka