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O Gestor Local de Energia e do Carbono (GLEC) é um senhor competente, discreto, de fato preto e camisa branca, de gravata fininha e regimental, baixinho e pio. A primeira impressão que dele temos é a de um senhor que não permite folestrias - decidi recuperar o léxico duriense -, rigoroso, aborrecido e conservador. Dir-se-ia que nos temos de benzer antes de falar. Quando melhor o conhecemos, acabamos repletos de respeito pela sua tarefa e pela sabedoria, eficácia e competência com que a leva a cabo, pese embora as constantes tropelias irresponsáveis de quem o rodeia.
Uma das suas iniciativas mais minúsculas - se comparadas com o trabalho colossal que tem em mãos -, foi, não sei se por orientação superior, colocar autocolantes encimando os interruptores advertindo para a necessidade de se desligar as luzes quando saímos das divisões. São bonitos, com um design agradável e não ferem o contexto onde cumprem o seu dever.
O extraordinário é verificar que, após esta diligência, aumentou de forma absurda a quantidade de lâmpadas acesas em compartimentos vazios.
Não acredito que o objectivo desta contradição seja a de boicotar os resultados que o GLEC tem de apresentar semestralmente às autoridades competentes. Não quero crer que a vontade de vitória da tacanhez siga por caminhos tão ínvios, tão planeados, desenhados para a atingir a médio prazo. Sempre pensei que a pequenez dos mesquinhos se tornava visível por, num curtíssimo período de tempo, se agigantar e tomar forma aos nossos olhos ao ponto de se tornar doentia, obesa, mas contornável.
Não encontro uma explicação satisfatória.
Suponho que existe latente em cada criatura a apetência para se tornar um bichinho maldoso, sem qualquer compensação que não seja a de satisfazer a ânsia de ver fracassar as mais pequenas, as mais irrisórias e as mais corriqueiras acções do outro, mesmo que indiretamente este soçobrar alheio o atinja negativamente depois.
Transportamos um Chucky ridículo de subúrbio ranhoso que a cada passo sai do coma. Contentemo-nos com o facto de se satisfazer com beliscões.
Ilustração - Jean-François Segura