Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Li há algum tempo uma entrevista implicante em que do alto da sua resmunguice blasé António Lobo Antunes declarava que os únicos livros importantes são os que nos modificam a vida.
Não faço ideia, minúscula que sou, se o escritor se referia àqueles, muitos, que nos vão com subtileza acrescentando ou surripiando pedaços à alma ou se mencionava os dele e uns poucos mais, dignos de inclusão neste supostamente claríssimo critério.
Sei , definitivamente sei, que existe um livro que me altera a vida todas as vezes que o abro e sofro o impacto brutal do que tem dentro. É sem dúvida o meu livro de eleição, batendo sem a mais ténue dificuldade o meu amantíssimo Proust.
O Livro do Desassossego de Pessoa.
Foi dentro desta ferida colossal que encontrei a frase mais extraordinária que conheço e que só por si elevaria o autor ao estatuto de génio.
A minha vida é como se me batessem com ela.
Sei que nunca li nada tão universal e acredito piamente que este monumento, mesmo isolado, deveria ser considerado património da humanidade.
Se Lobo Antunes se referia apenas a impactos destes, já não sei.
Sei contudo que há obras que não possuindo, nem em sombra, a dimensão pessoana – quem a tem?! – e não provocando sismos e catástrofes, avalanches ou tsunamis, conseguem fazer tremelicar o que temos com certo, permitindo-nos a grandeza de questionarmos o que pensamos ser e o que realmente somos.
Falo de dois.
Não teço considerações literárias, não me atrevo à crítica do género, porque perante um livro sou apenas a que o lendo o reescreve. Mostro-vos os títulos apenas. Indico autores. Acredito porém que quando os abrimos, há pequenas almas dentro da nossa que se movem.