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Bem sei que o público-alvo era constituído por rapagões deste calibre ou que dele se tentavam aproximar, mas valha a verdade, os publicitários da Marlboro sabiam o que faziam. Os antigos catálogos estão cheios de homens que parecem a sério. Nada de frágeis andróginos e hermafroditas. Era só passar os olhos pelas páginas para que nos sentíssemos satisfeitas e prontas a correr para uma loja onde, quem sabe, talvez encontrássemos à porta um exemplar encostado ao carrito de calças amarrotadas, casaco de couro com um ar vintage e com uma alma de lenhador toda bonita que adivinhávamos com facilidade. Não era provável, as hipóteses eram quase nulas, mas havia uma esperança secreta e sempre alimentada por quem era bom a fazer publicidade.
Neste momento, os meninos que fazem as delícias das passerelles não são mais do que bonecos de plástico depenado, com olhinhos de cão ou de gatinho e corpo reluzente, sem um pêlo. Não alimentam. Não são capazes de povoar um sonho mais encorpado. Uma pobreza toda igual. Não adubam ninguém.
Sou uma rapariga muito sensível a estas nuances publicitárias.
A velha Marlboro, pelo menos, cheirava a macho. Podiam perfeitamente estar todos a usar - no interior oculto do nosso desejo -, lingerie de renda vermelha com ligueiros cor-de-rosa que uma rapariga perdoava e agradecia o exterior.