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A minha irmã vive numa casa ampla e luminosa que os mais ilustres podem, num vislumbre, considerar minimalista. No entanto, a ausência quase total de objectos não se relaciona com qualquer opção estética. Ausente na esmagadora maioria do tempo e a necessitar de um lugar asséptico quando volta, a minha irmã compra determinado objecto somente se for de importância capital para o seu pleno conforto. Desse modo, um móvel existe porque nenhum outro pode ser movido. Há tarefas definidas para cada um dos objectos e porque a única preocupação na compra é a função que cada um tem de exercer, todos são limpos e puros como as obras de arte.
Sempre me pareceu fria e demasiado calculista. A minha irmã suporta mal a cor à sua volta. Admite breves tons pastel, muitas vezes cinza, algumas vezes chumbo, outras vezes quase nada, mas recusa frequentemente outras paletas.
- A cor distrai.
Sempre me pareceu uma casa vazia, como se estivesse eternamente à espera do habitante, e mesmo o espaço exterior foi terraplanado, limpo, despojado, permitindo apenas um tapete de relva macia emoldurado pelas sebes que ainda não tiveram tempo de resguardar e fechar todo o espaço.
É uma delícia tê-la na minha frente toda nervosa e toda indignada, a barafustar porque a casa contígua à sua, em silêncio desabitado, corre o risco de passar a albergar inquilinos pouco recomendáveis.
Uma nova-rica pedante, de jeans que até o fio dental nos deixam perceber e com uma maquilhagem igual ao snobismo que de tão exagerado denuncia ser de plástico e um homem engraçado, mas com um ar parolo, de pernas depiladas até ao tutano e um nome de um petisco qualquer.
- O homem chama-se Iscas! Valha-nos Deus!
Deus também sabe que não vai adiantar corrigir.
O casal Cabonero-Casillas devia ser prevenido que há na paisagem portuense precipícios que não convém descobrir.