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Li há muito tempo um conto perdido em que um casal, ao cruzar com outros - um cão, uma árvore, jovens e velhos, pedintes e nuvens, damas e senhores, pássaros e vermes - desenhava uma cruz num caderninho.
Ao fim do dia, cada um contava a quantidade de cruzes que tinha apontado. Ganhava aquele que tivesse mais. Ganhava aquele que trocaria mais vezes a vida que tinha por aquela com que se cruzou.
Creio que todos esbracejamos na angústia de nos vermos afogados. Não é igual o modo como o fazemos, mas alguns conseguem ver nas margens desta asfixia as cordas que se atiram sobre a pele da água. Podem alguns ser apenas um reflexo que se atira ao mar sem qualquer piedade, mas sabem que voar ainda respira.
Talvez por saber isto, se tivesse de escolher, escolhia-me. Não traçava a cruz.