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A Gaffe tem apenas algumas horas para se transformar numa diva enigmática, numa estrela cadente repleta de mistério, numa deusa deslizando pela brisa da tarde, numa fria princesa das estepes com a inocência e a singeleza do solo que pisa.
Não é difícil.
Um Dior traçado, um bâton pifado, um Lexotan e a pose entediada da Dietrich fazem de qualquer trapo uma aparição sublime.
Toda esta encenação, porque vai reunir às 16.30h com o seu mentor, o seu orientador, o seu chefe de serviço, o sábio, o seu ídolo, a sua canseira.
O homem tem 2000 anos, o sentido de humor de uma moreia e o rigor do General Ramalho Eanes - o que, embora parecendo, não é a mesma coisa.
A Gaffe enviou ontem, tarde e a más horas, um mail ao ilustre professor informando mui respeitosa que:
(…) relativamente ao seu pedido, o relatório segue em anexo.
Hoje, manhã cedo, a Gaffe descobre que na sua profissionalíssima mensagem não teclou um d. Não adiantando qual o d em falta, a Gaffe refere também que não anexou o prometido.
Resta-lhe portanto entrar na sala de reuniões com o allure de quem não está para se maçar, atirar os caracóis ruivos para trás, erguer a sobrancelha, fazer faíscar o bâton, pisar o soalho como quem ganhou um Óscar e com o spleen de Greta Garbo murmurar ao ouvido do velhote:
- Meu caro, alguém tinha de lhe aconselhar uma alteração na dieta.