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Como se a mansidão atapetasse os corredores do tempo e a brandura dos gestos se tornasse corpo decifrável, as manhãs em que ele chega tornam-se palpáveis. Como se o silêncio fosse mais pesado. Como se o som da minha vida estendesse mantas de veludo nos meus olhos.
O sorriso do rapagão ao meu lado, calmo, reflecte a melodia terna da bonança e de súbito eu cresço e sou melhor do que eu ao lado dele, maior do que eu, igual a mim, maior do que seria ser sem o ter ao lado.
Chega e eu fico a ver até que a mão gigante toca a minha. Os dedos agitados à procura da memória dos meus, do meu corpo que se lembra.
A melodia no espaço. A noite com frouxos farrapos de frio e de cristal e a voz de Jacinta.
Mesmo à flor das águas
Noite marinheira
Vem devagarinho
Para a minha beira
Fico de pé a ouvir.
Lento o braço dele vem demorar-me nos ombros. Na minha nuca o calor da boca e o meu sussurro igual ao do piano que lamenta a solidão que sente por não ter ao lado o som do saxofone.
E a noite vem beijar a alvorada que murmuro:
Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p’ra ti