Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
A minha paciência é uma mulher de sorriso imóvel e mudo. Usa avental branco e saias rudes de fazenda espessa, compridas e rodadas. Tem um rosto redondo e pequenas rugas fixas nos cantos dos olhos poucas vezes fixos nos que a olham e unhas sujas de terra e de descascar batatas. É ligeiramente curva e traz um xaile cinzento esburacado a cobrir-lhe a indiferença.
Cheira a sabonete.
A minha paciência faz trabalhos de casa. Cose, remenda, emenda, cozinha, esfrega os soalhos, engoma e asseia os quartos, serve o pequeno-almoço nas camas e estende a roupa depois de a lavar nos tanques com sabão antigo, cuida da louça e está atenta ao brilho das peças de prata.
É silenciosa.
A minha paciência faz as camas onde se deitam os outros. Aconchega-lhes os lençóis, murmura-lhes histórias até que adormeçam. Apaga as luzes e encosta as portas. Depois, por entre a noite, a minha paciência sobe as escadas, entra nos quartos descalça e, em bicos de pés, começa a estrangulá-los.