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Tédio despropositado.
Os lençóis agarram o meu perfume e a minha nudez espalhada é indiferente ao espelho.
A minha cama sempre pareceu um ninho de um bicho espalhafatoso e exuberante. Nunca consegui dormir de forma calma. Envolvo-me e rebolo no sono e no sonho e destruo a primorosa obra das manhãs tardias em que os lençóis se dobram, se alisam, se amaciam, se distendem, se prendem e engomados dispersam o perfume lavado dos amanheceres mais claros.
Mas hoje acordei e tudo era perfeito. Como se ninguém tivesse dormido na véspera. Como se fosse dia de amante noutro lugar. Nenhum vestígio de ruga, nenhum cataclismo surdo e mudo e inconsciente. Nenhum tumulto, nenhuma multidão amorfa de panos misturados e confusos.
Em mim o tédio invade até as noites e faz aquietar as ondas do meu sono.
Durmo na planura da indiferença e na suspensão apática daqueles que desprezo.
Imagem - Denis Sarazhin