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Tremem leve, levemente,
como quem espera por mim.
Será medo a bater dente?
Medo não é certamente,
e o dente não bate assim.
É talvez a ventania,
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
das areias do caminho...
Quem treme, assim, fortemente,
com tão estranha firmeza,
que mal percebo o que sente?
Não é medo, nem é dente,
nem é de dor com certeza.
Fui ver. A água de fria
Rivalizava com o céu,
Tanta água cinza e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Põe a carne cor de vinho.
Tem dentro gente que traça
os braços para que não faça
tanto frio no peitinho...
Fico olhando esses sinais
dos rapazes a tremer,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns speedos de morrer...
E molhadinhos, doridos...
a água deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, muito esmaecidos,
que o frio não deixa erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas estes speedos, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma onda de pesar
entra em mim, fica em mim presa.
Há speedos na Natureza
- e eu aqui a trabalhar.