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Na adolescência, tive uma paixão, com um ligeiro travo depressivo, por Florbela Espanca.
Sentia a planície das minhas horas mortas, como um brasido torturado e revoltado, sem fontes e sem bênção.
Fui crescendo, pedindo a Deus a minha gota de água.
Florbela foi-se diluindo pouco a pouco. A dolorosa canícula do Alentejo da minha alma foi-se povoando por outros poetas, perdidamente amados.
Há, no entanto, uma subtil perenidade nas paixões adolescentes. Enformam-nos a vida e é a partir delas que renovamos o sentir. Sentimos o inesperado, acreditando que é original e puro, límpido e por contaminar, ignorando que é previsível, porque se enraíza nos sentires passados.
Nesta charneca de flores incendiadas, continuo adolescente nesta procura de pousar a alma numa gota de água.