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Hoje, vou procurar em todos os olhos das ruas o que te quero dizer e hoje, exactamente hoje, no dia dos teus anos, a nudez das coisas será completa e no tecido de todas as luzes não vou encontrar o que tenho de ler para te entregar.
Durante a tua vida toda invadiste as almas daqueles a quem bastava o amor que se entregavam.
Como se fossem lagos, nas vidas que se cruzam com a tua, mergulhas as mãos dos olhos.
Tens as labaredas que provocas e os mundos despidos de outras gentes, porque as almas são restos de velas e de lenços e de capas e de mantos e de trapos que roubaste, que não sabes vestir, que não são teus. És carteirista, ladrão vadio e vagabundo de almas. Nos outros, peregrino.
A minha vida deixou-se aquietada e na quietude arde-me este teu olhar de ver a vida, afogueando os ninhos dos meus braços, impedindo os outros de doer em mim, que apenas sou a olhar para ti.
Hoje vou procurar por todo o lado uma palavra que não sei sequer pronunciar por dentro. Queria-a amarrada a mim, para a entregar a ti comigo atado e ao descer em mim, que não a vejo fora, encontrar-te inteiro, todo, num abraço.
Descubro assombrada que te quero sempre aqui, assim, em mim cá dentro. Se a vida me deu olhos foi só para te olhar o coração. Nunca me senti capaz ou merecedora de recolher a impossível claridade de me sentir amada por ti sem motivo ou corpo. Por isso, se eu chorar agora é de mansinho por descobrir que por mim trazes os teus olhos habitados.
Eu, que acreditava não ter à minha volta, à espera, mais abraços!