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A Gaffe está chocada.
Acusam o senhor engenheiro de ter escondido várias obras de arte em casa da empregada de limpeza da mãe.
Um terror!
As pessoas que trabalham para nós são umas queridas. É gente muito dedicada, disposta a sacrifícios abnegados e de suores que nem à força do sabão que usam se atenuam.
É gente pobre, mas disponível e criativa que enfia queijo da serra no bacalhau soltando a memória das peúgas do avô pastor e da avó pouco dada a banhos. É gente séria e empenhada que leva o trabalho para casa.
Acusar o senhor engenheiro de enfiar parte da sua colecção de arte na despensa da empregada de limpeza da mãe, para além de se tornar mais um pedregulho atirado à probidade da vítima, é insultar esta gente tão trabalhadora, que nos é devota, sempre amorosa e que não olha a meios para nos agradar, mesmo que tal signifique levar os móveis para casa para os polir. O tempo não chega para tudo e a Gaffe não consegue imaginar as horas que se gastam a limpar corredores ou a escovar as molduras dos Almada Negreiros com cotonetes.
É evidente que há de tudo. A Gaffe admite que no meio desta multidão haja uma peça de fruta maculada capaz de nos levar o couro e o cabelo por doze ou treze (ou treuze para harmonizar) horitas de esfrega, mas é gente não distingue um Pomar ou um Paula Rego de uma estampa do Ikea. Normalmente surripiam-nos as sobras do almoço ou um alfinete de peito que já não usamos e declaramos perdido.
Os critérios do senhor engenheiro na escolha dos amigos e dos serviçais está acima de toda a suspeita e, como está sobejamente provado, o bom coração, a lisura de carácter, a honra, a honestidade, a mais profunda solidariedade e a devoção sem limites ou condições encabeçam estas exigências.
A Gaffe pasma perante tanta crueldade e considera um ataque à democracia e aos direitos dos trabalhadores recusar que as horas extraordinárias se façam no aconchego do lar das pessoas que se esforçam.
Imagem - El Greco