Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
São um casal maduro.
Ele, com uma barriga imponente e empinada de alemão grande, robusto e ruivo, de cabeça erguida e desdenhosa, com mãos moles a abanar ao longo do corpo que se move compassado e marcial.
Ela, sempre atrás, miudinha, franzininha, de passinho saltitante e latino, de cabelito grisalho, vai debicando quem passa ou fica enternecida ao ver o pincher da senhora gorda e oxigenada que se esquece do bicho e quase o esgana quando levanta o braço num arranjo distraído do cabelo e lhe puxa a trela segura no pulso.
Nunca os vi lado a lado. Nunca os vi a trocar uma palavra.
Passa bamboleante o gordo alemão com o latina pela trela todas as tardes por mim.
Perco-me a segui-los com os olhos até os ver desaparecer sempre na mesma loja de bugigangas. Observo-os, porque preciso de sentir o que quer que seja e a avidez com que me repugna a visão dos dois ocupa-me algum tempo.
Ela, magrinha pela trela, sorriu-me hoje. Abanou a cabecinha como se tivesse pousada nela a cabeleira da Fawcett e sorriu-me. Assustadiça, a olhar de esguelha para o mastodonte que marchava mole à sua frente.
Apeteceu-me tanto erguer a mão e de punho fechado espetar o dedo médio, enfiar-lho dentro daquele peito, para por dentro e com ele cravado ali, a levantar do chão!