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A Gaffe acaba de saber que se vai dar continuidade ao dia sem calças, abraçando-se mais uma vez um evento com raízes fora deste jardim.
É divertidíssimo, embora por cá se tenha perdido o objectivo que guinou o acontecimento e que nos reportava a uma disrupção, uma ruptura, uma propositada e consciente negação do normalizado e do normativo.
Estas pequenas tontices são maravilhosas como forma de afirmação pacífica, e provavelmente inofensiva, de independência em relação ao estipulado como regra burocrática ou acinzentada. Fazem com que nos encontremos com imagens que gostaríamos de banir para todo o sempre e, compensando a onda polar, outras que aquecem os nossos sonhos menos próprios e menos públicos.
Nada mais do que tal.
A repercussão do ocorrido não adquire dimensões significativas e é aceite como divertido modo de um adulto apanhar frio e aparentar um ar um bocadinho totó, laró, ligeiramente parvo, de pasta séria, carranca fechada, sapatos bicudinhos, gravata esticada e cuecas limpas e pacatamente exibicionistas.
O que causa dano nas hostes mais conservadoras, mais uma vez imbuídas de pudores suados, mais uma vez saturando o ar com uma dose engarrafada de bons costumes, é a possibilidade de ofensivamente se notar muito a pila - traumatizando as criancinhas pobres que não vão à praia -, ou a eventualidade da moçoila se estar a colocar a jeito.
Estas preocupações recorrentes - sobretudo quando a Maria José Vilaça não opina, fomentando a cura para estas disfunções -, atinge uma gama significativa de tolices sem importância.
É enternecedora a indignação destes escandalizados defensores do lógico intransigente, que muito possivelmente faz companhia à que rasga as vestes quando um rapazola se lembra de vender engarrafado o ar de Fátima, com planos para fazer o mesmo ao ar de Lisboa - há décadas que existe enlatado o ar de Paris, o ar de Veneza, o ar de NY e o ar de quem viaja por todo o lado. As latinhas são uma delícia!
Este tipo de indignação, de choque, de revolta, de escândalo, desconhece que a apetência para transformar a tolice inofensiva em fait-diver turístico - logo ali ao lado dos porta-chaves, dos pins, dos ímanes para espetar na porta do frigorífico ou de outras centenas de recuerdos inimagináveis que abundam nas mais variadas esquinas de todas as cidades visitáveis do planeta -, não provoca o colapso do universo.
Parece, no entanto, evidente que esta capacidade para inventar razões para sorrir, é causa de muitos abalos ou mesmo do soçobrar dos universos dos que usam, pela vida fora, apenas as calças onde só há bolsos para enfiar o que há muito engarrafado lhes avinagrou o cérebro.