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Ludovica Riba d’Ave Vilarinho e S. Romão (Lua para os amigos) é uma Teckel de muito boas famílias que nos suporta com sobranceria, caninamente apaixonada pelo dono que persegue de forma compulsiva, de cauda em arco a abanar pausadamente.
Meiga, inteligente, fleumática, óptima caçadora e muito pouco dada a mimos, é o oposto da Bórgia, assassina nata, bipolar, maníaco-depressiva, histérica e esquizofrénica.
A Lua adoeceu.
A cadelinha vinha há já algum tempo a ameaçar fragilidade. Foi-lhe diagnosticado um problema cardíaco com aguda gravidade e artroses nas minúsculas patinhas rechonchudas.
Depois de medicada, a Lua resistiu e, rapariga forte, corria pela casa atrás do dono, desenfreada e tonta, reguila e distraída, desajeitada e senhora do seu um nariz seguro e empinado.
Agora piorou.
No mapa da minha alma tenho a Lua no instante do salto, de alegria disparada, de correria desatada a desfazer a relva, atrás do dono, os dois a gargalhar, os dois a explodir de espaços repletos de vento.
Os dois já cansados deitados no chão.
O que retenho desenhado é a absurda cumplicidade da cadela com um garnizé psicipata. Os dois dispostos sempre a atacar o estranho. Os dois a perseguir o Chanel da visita e já escondidos a rilhar a troça de ver por terra, tombada e amarfanhada, a pose das senhoras.
O momento que guardo é o que me fala do adormecer da Lua no colo do meu irmão depois de o olhar com a mais completa entrega, a mais fenomenal das fidelidades, o mais perene Amor do Universo inteiro.
A vida distorce, altera, transforma o mapa que retenho.
A Lua piorou e já não corre.