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Nasceu ontem à noitinha a quarta neta da senhora do quiosque.
Não há um natal mais perfeito do que aquele que se avista nos olhos da matrona, verdadeiro mastodonte de antipatia e de maledicência que todos os Domingos vende o jornal a esta rapariga.
A Gaffe ficou perturbada porque desconhecia por completo que a senhora era mãe e avó. Possivelmente será filha.
Sempre a viu, ano após ano, demasiado ocupada, entregue à esgotante tarefa de conspurcar os outros que passam incautos pela janelinha do cubículo onde se acoita. Como um boa menina desatenta e mimada, indiferente e egoísta, a Gaffe não percebeu que havia por perto mais mundos do que aquele que se instalou no seu umbigo.
O seu grave problema, o seu terror, é que não consegue agora olhar para a senhora sem a imaginar a resfolegar na cama com um homem, mesmo quando tenta imaginar a cara da recém-nascida nos traços amarfanhados da mulher.
A Gaffe é um animal tão estranhamente perverso e subterrâneo!