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Sendhi Mullainathan da Universidade de Harvard e Eldar Shafir da Universidade de Princeton, dois especialistas em Economia Comportamental, acabam de publicar um interessantíssimo artigo onde declaram, numa síntese descarada e muito pouco esclarecedora, como é normal por aqui, que as nossas preocupações moldam o nosso cérebro e nos tornam menos inteligentes.
Eis em resumo a Teoria da Escassez:
Na ausência do que consideramos essencial ou daquilo que necessitamos, o cérebro foca-se na procura de uma solução que rouba o espaço mental disponível.
Esta quase intuitiva teoria faz-nos conhecer o Efeito Túnel que refere que as nossas capacidades cognitivas, inteligência fluida, ou capacidade para analisar e resolver problemas abstractos e de controlo executivo e a capacidade de planeamento e controlo de impulsos, passam a estar subordinadas à necessidade detectada ou sentida. O Efeito Túnel consiste portanto no domínio daquilo que consideramos urgente e prioritário sobre o que não nos parece importante.
Apesar de um bocadinho assustador, traz vantagens:
- Prontidão de resposta - resolução de problemas com criatividade e eficácia (o famoso e tão português desenrascanço);
- Sentido de valor mais apurado (um euro, um sorriso ou um minuto são bem mais valiosos se nos são escassos).
Mas as desvantagens são asfixiantes:
- Maior propensão para o fracasso - a mentalidade da escassez sobrecarrega e tende a resultar no insucesso por erros no processamento da informação;
- Menor capacidade de planeamento - metas a médio e a longo prazo são descuradas;
- Baixa margem de resposta a imprevistos (perda salarial, mudança familiar) por falta de disponibilidade mental. O exército do se acontecer logo se vê instala o cerco. A lógica previdente desaparece;
- Menor capacidade de autocontrolo – tende-se a falhar as metas possíveis (deixar de fumar, Recusa de fast food por parte dos obesos);
- Atrofia das competências cognitivas – contabilidade mental, análise racional e oportunidade de risco fica limitada a más escolhas;
- Estupidificação de um povo.
O artigo dos dois cientistas não deve ter sido lido e estudado pelos governantes que continuam a não perceber que os apertos financeiros condicionam o rendimento colectivo e provocam um défice perigoso no funcionamento mental de um país.
Valendo o que quiserem, esta teoria vem pelo menos confirmar que a preocupante reforma de Cavaco realmente não lhe chega para as despesas.