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Todas as mulheres elegantes, intrinsecamente elegantes, são inteligentes. Não há qualquer vestígio de sofisticação, de charme, de urbanidade, de cosmopolitismo, de universalismo - há subtis diferenças - nas mulheres que terminam no conteúdo do soutien ou na quantidade de likes que conseguem quando esbardalham as férias parolas de biquíni exíguo e língua de fora nas redes sociais.
A elegância absoluta é incompatível com a empobrecedora tirada, puxada do autoclismo da imbecilidade, ou se ama ou se detesta. Nada deve oscilar desta forma. Uma redução simplista e maniqueísta do que é naturalmente múltiplo é sempre uma manifestação clara da existência de limites intransponíveis à capacidade de detectar e abarcar todas as variantes que se oferecem. A inteligência, neste caso particular, impede a constrição, racionalizando a emoção, substituindo a emotividade pelo pensamento crítico ou travando o instinto mais básico dando primazia a uma análise quase matemática.
A elegância é matemática.
Nada impede, contudo, que uma mulher elegante troque a razão pelo instinto em casos pontuais. O pensamento crítico é tão viciante como a cocaína. Mesmo sem vestígio de droga, fica-nos sempre o nariz alterado.
Uma mulher elegante sabe que se torna divertido operar através do seu instinto, sobretudo quando lhe é exigido uma complicada arquitectura da razão, do pensamento, desde que perceba que é a razão que, instintivamente, lhe comanda a escolha.
Talvez seja por isto que a Gaffe fica tão perplexa perante a quantidade de Look do dia ou look da semana que se esbarra contra os muros dos blogs mais fashionistas, onde nada tem origem, quer no instinto, quer na razão. É talvez o único caso em que o ou se ama ou se detesta encontre o poiso que lhe justifica a existência. O único Look possível deveria ser o Novo de Dior.
Há, no entanto, um caso em que a emoção, a emotividade, a comoção, o envolvimento da intimidade e da partilha de raiz no coração, devem ser comandados e dominados quase em exclusivo pela razão.
A escolha do vestido de noiva.
A Gaffe acredita que não terá, nunca, de enfrentar uma situação tão embaraçosa e exactamente por isso é capaz de se debruçar com o frio de um Inverno rigoroso sobre o assunto.
A escolha do vestido de noiva não pode ser instintiva. Deve ser domínio do pensamento crítico, da análise mais dura e crua e da razão mais cristalina. Deve provocar emoções, mas ser contido na emoção que provoca em quem o usa. Não deve ser o centro do que envolve a noiva, mas deve transformar-se no centro do que envolve os outros.
Tem de contar histórias! Tem de evocar cenários! A narrativa de uma noiva começa no instante em que o primeiro convidado a vê. É no primeiro parágrafo, dizia García Márquez, que o romance se faz.
A Gaffe elegeria subtis evocações de Paris de Antoinette, Versailles antes do Medo. As caudas de vestidos que partem dos ombros - os Watteau, de origem na tela de um pintor -, o abaular das sedas, grávidas de vento, o delicado, quase imperceptível, trompe-d’oiel, o paradoxo amável entre frente e costas e a exuberância dos frisos trabalhados.
Aliava o século onde o Sol se pôs com a luminosidade das luas de Dior. O New Look que adelgaça a cor do que é sonhado, os lanhos que se fecham através de pérolas e o deslumbre das assimetrias claras que escondem a mulher ao revelar a esfinge.
Depois, a esguia, a tubular luxúria do brilho acinzentado. As jóias que se esquecem na sombra de uma seda e a intimidade esplêndida que se adivinha apenas na promessa.