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As mulheres adornam-se desde tempos imemoriais. Os objectivos são inúmeros e as razões variadíssimas. Ciclos de fertilidade, etapas de crescimento e de maturidade, ritos iniciáticos ou ondas de sedução, religiosa ou pagã, tornaram o corpo, preferencialmente o feminino, num palco de excelência.
Neste metamorfosear de fascínios, a arrogância masculina chamou a si a possibilidade de o adorno ser a homenagem da mulher que se objectifica através do somatório de atavios, marcas, signos, enfeites ou adereços, submetendo-se à capacidade de domínio do macho, contrariando a mais habitual forma de seduzir das outras espécies em que é o macho que se enfeita.
Na esmagadora maioria das vezes, esta certeza é um dos masculinos momentos de ilusão, porque não tem em conta que se nós, raparigas, sobre o corpo colocamos os mais extraordinários signos de beleza, fazemo-lo sobretudo porque a nossa pele exige que nela sejam depostas todas as jóias que inventamos.
Adornamo-nos sobretudo para nós. O resto são despojos.
Há alguns anos, vi e ouvi pasmada e rendida a gravação de um concerto de Carlos Paredes e de Luísa Amaro.
Sei que este cantinho não é o lugar para lamentar o facto de nos países pobres, e nos pobres países, o entorpecimento total em relação aos talentos que os povoaram se ter tornado uma constante só quebrada se causar proveito aos que os dominam.
Sendo este um cantinho de uma rapariga fútil, avesso a discussões incomodativas, pousemos os olhos, em consequência, num elemento cenográfico - creio que o único - do concerto.
Com uma iluminação perfeita e minimal, no pescoço vestido de negro de Luísa Amaro, chispava um belíssimo, largo e denso colar de diamantes. O resto era escuro. A guitarra de Paredes contracenava com o cintilar do adereço, sobrepondo-se ao seu fabuloso fulgor gelado.
Lembrei-me deste cenário, quando dei comigo avassalada por uma enormíssima quantidade de fotos do objecto da imagem que invadem a net e sobretudo os blogs da especialidade.
Não nego a possibilidade de o considerar um belíssimo adereço, mas recordo de imediato o colar de Luísa Amaro submetido e domado pelos sons das guitarras e da virtuosidade do mestre e percebo que, para transportar um objecto com o poder, a força, o peso e a carga que este - mas sobretudo o de Luísa Amaro - possui, não basta um cenário negro. É necessário que o saibamos fazer esquecer, diluído no pescoço de uma maior e mais impalpável autoridade.
Fiquemo-nos portanto pela tripla e discreta fiada de pérolas oferecida pela avó.
Nos pulsos dos homens colocam-se algemas - em situações várias, algumas agradabilíssimas - e relógios.
Convém recordar que não é sustentável andar com o Big-Ben agarrado ao braço. Raros são os que necessitam de cronometrar uma modalidade olímpica e não é obrigatório que o aparelho dispare granadas ou entre em contacto com espiões industriais através de mecanismos complexos que implicam roldanas e rodinhas, botões e ponteirinhos.
As informações acerca do fuso horário que se troca podem ser pedidas amavelmente à comissária de bordo e continua a ser charmoso o modo vintage de acertar horários manualmente.
Portanto, meus queridos, esqueçam as maquinetas potentes, loiras, brilhantes e complexas dos empreiteiros dos Porches e usem e abusem da simplicidade temporal.
Espreitar as horas que passam não implica em simultâneo cronometrar o tempo que se leva a atravessar a rua. Se tiverem de ser atropelados, sê-lo-ão mais depressa se estiverem a tentar vislumbrar o ponteiro certo.
Foto - Rodney Smith
Se tivermos pernas até ao pescoço – e não o pescoço colada aos pés – esta perneiras fazem com que Mr. Grey aprenda que uma mulher esperta não precisa de vendas, contratos, chicotes ou de algemas para subjugar quem quer que seja. Basta-nos calçar o que nos deixa frios apenas os pezinhos para podermos continuar a ter o inefável prazer de encostar dois pedaços de gelo às coxas do rapaz que vai acreditar que se trata mesmo de uma manobra lúbrica de Sacher-Masoch.
Um homem sabe que o que tem de transportar pode não caber num bolso, mesmo daquele que está vago no seu coração e as escolhas que faz das malas ou pastas onde guarda o que quer, diz sempre a uma rapariga esperta qual a bagagem que vale a pena abrir.
Na tradição judaica o véu significa a honra, a virgindade e a dignidade das mulheres e em simultâneo um sinal da subordinação ao marido.
Há quatro tipos clássicos desta simbólica subjugação:
Já o anel de noivado chega-nos da Grécia e de Roma antigas que por sua vez o foram buscar à tradição Hindu. Acreditava-se que pelo quarto dedo da mão esquerda passava uma veia (vena amoris) directamente ligada ao coração.
No início o anel de noivado (e posteriormente a aliança) era tida como um certificado de propriedade ou de compra da mulher, indicando que a mesma não estava mais disponível para outros pretendentes e só a partir do século IX foi transformado pela igreja cristã no símbolo de união e fidelidade entre casais cristãos.
É curioso perceber que estes românticos símbolos são originários de crenças muito pouco abonatórias, mas, de posse desta informação, saibam rapazes que não nos subordinamos nem nos vendemos por um pechisbeque qualquer!
Se os diamantes são os melhores amigo da mulher, o ouro e a platina dão óptimos confidentes e não há tradição que vos valha nem véu que vos cubra se não cintilar no nosso dedo um solitário tão estupendo como aquele que brilha na foto.
Segundo Colleen Jordan - Atlanta, Georgia - se mantivéssemos uma planta perto do coração, seriamos bem mais felizes.
Colares, alfinetes, anéis e até mesmo vasos de bicicletas, transportam minúsculas razões para nos encantarmos mesmo sem termos por perto a Primavera.
Estão a ver isto?
Coisa mais linda!
Mas não é destes que a Gaffe quer falar. Estes são Ray-Ban e pertencem à famosíssima colecção Clubmaster, lançada nos anos 80 e que dava uma piscadela de olho aos anos 50 e aos óculos Browline usados por Buddy Holly e Malcolm X. Foram recuperados agora e são uma autêntica coqueluche por aqui fora.
Mas o que interessa não é isso.
O que importa é que há uns aninhos (mais um para trás ou para a frente) o Armani lançou uma edição limitadíssima de óculos que são a cara destes, com hastes mais largas, anos-luz mais bonitos e sexualmente abrangentes.
Foram usados uns parecidos nos filmes JFK, Cães danados e O talentoso Mr. Ripley. Coisa fina. Custavam uma fortuna. Mas a Gaffe não descansou enquanto não conseguiu compras uns para oferecer ao homem dos seus sonhos. A armação era de tartaruga, com a ligação entre lentes de ouro velho e parafusinhos lindinhos e pequenininhos a prender as ditas, verdes garrafa. Um milagre.
Apesar de maravilhosos, eram pesados demais. Era maciços e chegavam a magoar a cana do nariz. Foi exactamente esta a razão que levou o Armani a retirar o produto do mercado. Ficou prometida uma versão mais leve, mas nunca mais apareceu.
Mas o homem da vida da Gaffe adorava-os. Chispava por eles.
A Gaffe ofereceu-lhos!
Com caixinha e paninho para os limpar, garantia e documento assinado pelo Armani atestando a origem e o número de edição! Assim, o matulão que a Gaffe presenteou conseguiu pregar-lhe um par de chifres, mas de modo vintage.
A Gaffe quer ver se o apanha distraído, lá mais para o Verão, e vai tentar recuperar os óculos para os dependurar depois nos dois galhos secos que ainda tem na testa.
Rapazes! Desde que não tenham menos do que 1.80m, não pareçam que desataram a fazer dietas sinistras em que se come durante duas semanas apenas três bananas ao pequeno-almoço e se bebe o sumo de quatro limões ao jantar e que o ginásio serve também para tonificar e manter os vossos corpinhos já por si em excelente forma física, não hesitem! Usem e abusem de adereços susceptíveis de causar um delicioso receio nas mentes perversas das raparigas que sempre foram atraídas por arsenais com um sabor ligeiramente bélico, levemente punk e vagamente sado.
Um homem que não receia ostentar cadeados e correntes símbolos mais ou menos esotéricos é sempre aquele que não teme ser por nós atado pelos adereços que escolheu.
Prometo que é a última vez que faço nós de gravata.
Se tiver de enrolar o que quer que seja ao pescoço de um bom rapaz (a ordem pode ser invertida e o adjectivo pode passar para a frente) que sejam apenas os meus braços.
(Turquoise Tentacle por KTOctopus)
Há imensidão de fotografias, algumas bem marotas, em que um polvo retirado ao mar minutos antes (congelado não surtiria o mesmo efeito), se esparrama em corpos divinais que posam como se tivessem graves problemas ortopédicos.
Confesso que não acredito que os modelos escapem a estas sessões fotográficas sem nos fazer lembrar, pelo perfume, Lázaro depois de ter abandonado o túmulo.
No entanto, perante estes exemplares incríveis a Gaffe, embora dispensando os brincos, não pode deixar de pensar que um molusco destes ao pescoço vale bem o sacrifício de um nariz.
Ralph Lauren já nos habituou a peças com sabor vintage dentro de algumas das suas inteligentes e cuidadas colecções, mas a Gaffe não resiste e tomba seduzida quando depara com a sábia mistura de uma imagem quase banal, mas com um ligeiro travo conservador, acentuado pela mochila que recorda os magníficos sacos de correio de uma América já ultrapassada.
Nestes casos de lettering desbotado, corroído, mas com memória, esperamos sempre que o carteiro toque sempre duas vezes.
Sejamos práticas, raparigas!
Se a Primavera se tornar tímida, fazendo com que o Verão espere friorento a hora marcada para embarcar no navio do nosso contentamento, reconheçamos que só há uma Primavera em cada dia e é preciso canta-la bem florida.
Se a alvorada vier no baloiço dos perfumes, pode valer a pena sabermo-nos perdidas. Haverá sempre, aqui e além, o lugar exacto para nos encontrar.
Todas nós, raparigas espertas, somos inevitavelmente atraídas por insinuações militares.
Há um condimento excitante no universo de jovens garbosos munidos de aventura fantasiada pelas nossas cabecinhas que, não raras vezes, se deixam embalar pela insensatez, normalmente aliada dos tornados emocionais, porque, como diz Jobim:
Quem semeia vento,
diz a razão,
colhe sempre tempestade
Mas, no entanto, não é de todo arriscado, deleitarmo-nos a olhar a belíssima adaptação de saco marinheiro que luta pelo destaque nesta imagem.
Não costumam ser práticos, porque arriscam uma aproximação aos nossos imensos e abismais portadores de universos, por onde se perdem galáxias inteiras, mas não nos deixam indiferentes.
Trazem o sabor do Verão e uma pitada aventureira de sal, de areia e de promessas vãs, (frutas da época) irresistíveis e solarengas, prontas a desafiar a nossa credulidade tão propensa a deslizes no pavimento largo dos corações marinheiros.